Decorrem das modificações fisiológicas do organismo materno, e não necessariamente necessitam de tratamento.
ARTRALGIAS (DORES ARTICULARES)
· Resultam da diminuição da estabilidade articular por relaxamento dos ligamentos decorrentes da embebição gravídica pela ação da progesterona, e da sobrecarga da bacia e dos membros inferiores por aumento de peso e adaptação postural da gestante.
· Podem ser induzidos ou agravados por movimentos bruscos, vícios posturais ou permanência em posições que forçam as articulações.
· Conduta:
o Correção da postura.
o Evitar movimentos bruscos.
o Praticar exercícios físicos e de relaxamento (ex.: hidroginástica, ioga).
CÃIMBRAS
· Espasmos musculares involuntários e dolorosos que acometem principalmente os músculos da panturrilha. Mais comuns à noite (início do período de repouso) ou pela manhã (início do período de vigília, despertar). Induzidas geralmente por estiramento voluntário, intenso e/ou súbito, dos músculos comprometidos (ato de espreguiçar).
· Acredita-se resultar de uma acidose locorregional, decorrente da diminuição de cálcio e acréscimo de fósforo na circulação materna associados à estase venosa nos membros inferiores por compressão das veias ilíacas e cava inferior pelo útero.
· Conduta:
o Evitar o alongamento muscular excessivo ao acordar, em especial dos pés.
o Evitar ortostatismo (diz-se de fenômenos que só se produzem em consequência da posição em pé) e a posição sentada por longos períodos na gestação avançada.
o Nas crises: calor local + massagens na perna + movimentação passiva de extensão e flexão do pé.
o Diminuir a ingestão de fósforo pela redução no uso leite e suplementos dietéticos (fosfato de cálcio).
o Tratamento medicamentoso (resultados duvidosos) Ø Hidróxido de alumínio após as refeições para reduzir a absorção de fósforo. (Pode causar ou agravar constipação intestinal) Ø Carbonato de cálcio para aumentar a ingestão de cálcio.
CEFALÉIA (DOR DE CABEÇA)
· Decorrente da vasodilatação e edema cerebral por ação da progesterona, e da diminuição da força coloidosmótica intravascular pela hemodiluição fisiológica da gravidez. Mais intensa em pacientes com história prévia de enxaqueca. Agravada por hipoglicemia, calor e fadiga. Intensificada pela ansiedade com a aproximação do parto.
· Conduta:
o Aumentar a ingesta hídrica.
o Alimentar-se em períodos regulares e curtos (a cada 3 horas).
o Evitar ambientes fechados, abafados e exposição intensa ao sol/calor.
o Tratamento medicamentoso (analgésicos comuns): Ø Paracetamol: 500 a 750 mg, VO, até de 4/4 horas. Ø Medicamentos utilizados para tratamento da enxaqueca estão contraindicados.
CONGESTÃO NASAL E EPISTAXE (NARIZ ENTUPIDO E SANGRAMENTO NASAL)
· Resultam da embebição gravídica da mucosa nasal provocada pelos hormônios esteroides (vasodilatação, aumento da vascularização e edema do tecido conjuntivo).
· Conduta:
O Congestão: instilação nasal de soro fisiológico. Casos extremos: vasoconstrictores tópicos (sistêmicos estão contraindicados).
O Epistaxe: leve compressão na base do nariz. Casos mais graves: encaminhar ao especialista (Clique aqui para maiores informações sobre esse assunto !)
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL (INTESTINO PRESO)
· Distúrbio funcional caracterizado pela dificuldade rotineira na exoneração dos intestinos pelo prolongado intervalo entre as evacuações (>72h) ou pela consistência aumentada das fezes.
· É ocasionada pela hipotonia gastrintestinal devido à ação inibidora da progesterona sobre a contratilidade da fibra muscular lisa, dificultando a peristalse. O retardo na progressão do bolo alimentar pelos intestinos possibilita a maior reabsorção de líquidos, e consequente aumento da consistência das fezes. Pode agravar doença hemorroidária previamente existente.
· Conduta:
o Tratamento dietético Ø Alimentos que formam resíduos (legumes, verduras, frutas cítricas, mamão, ameixa). Ø Ingestão liberal de água.
o Insucesso do tratamento dietético Ø Reguladores da função intestinal (concentrados de fibras vegetais pela manhã) Ø Caso não melhore: laxativo à base de óleo mineral ao deitar.
EDEMA (INCHAÇO)
· Em geral surge no 3º trimestre da gravidez, limitando-se aos membros inferiores e, ocasionalmente, às mãos. Desaparece pela manhã e acentua-se ao longo do dia; e piora com ortostatismo prolongado e deambulação. Deve-se atentar para a possibilidade do edema patológico, associado à hipertensão, sinal importante de pré-eclâmpsia.
· O extravasamento de fluidos para o espaço extravascular é ocasionado por: aumento da permeabilidade capilar (ação dos esteroides sobre a parede dos vasos), aumento do volume plasmático (com diminuição intravascular da força coloidosmótica) e aumento da pressão intravascular e da estase sanguínea nos membros inferiores (compressão das veias ilíacas e cava inferior pelo útero gravídico).
· Conduta:
o Evitar a posição sentada por longo período e o ortostatismo prolongado.
o Repouso periódico em decúbito lateral e/ou com os membros inferiores elevados.
o Uso de meia elástica. (Colocá-las sempre com os membros inferiores elevados por um mínimo de 10 minutos para evitar agravamento dos sintomas).
o Não utilizar diuréticos nem dieta hipossódica.
ESTRIAS
· Lesões dermatológicas que aparecem na 2ª metade da gestação, localizadas no abdome inferior, região glútea, coxas e mamas. Surgem como lesões lineares, levemente pruriginosas, avermelhadas e hipertróficas, e evoluem com aspecto hipocrômico e atrófico.
· Resultam de predisposição genética, além de alterações do colágeno (por aumento da atividade suprarrenal e elevação do cortisol livre) e efeito físico da distensão e rotura do tecido conjuntivo (formação de área cicatricial).
· São agravadas por situações que provocam hiperdistensão da pele, como macrossomia fetal, gestação múltipla, polidramnia e ganho ponderal excessivo.
· Conduta:
o Evitar ganho ponderal súbito e/ou excessivo.
o Massagens locais e cremes hidratantes não mostram resultados satisfatórios.
o Ácido retinóico (tratamento de escolha de estrias recentes) é formalmente contraindicado na gravidez e na amamentação.
GENGIVORRAGIA (SANGRAMENTO DA GENGIVA)
· Hemorragia espontânea produzida na gengiva, causada pela congestão da mucosa oral. Pode complicar com hipertrofia gengival e doença periodontal.
· Conduta:
o Higienização delicada com escova de cerdas macias.
o Bochechos com solução antisséptica.
o Procurar o odontologista.
HEMORRÓIDAS
· Dilatação varicosa das veias anorretais submucosas. Ocorrem devido à pressão venosa persistentemente elevada no plexo hemorroidário, causada pelo aumento do volume uterino e/ou pela presença de constipação intestinal. Causa dor, edema e sangramento. Pode complicar com trombose hemorroidária aguda, fissura anal e abscesso perianal. Diagnóstico baseado na história clínica e no exame físico.
· Conduta:
o Prevenir e tratar a constipação intestinal.
o Evitar a permanência na posição sentada por longos períodos.
o Orientar uso de anestésicos tópicos e compressas úmidas aquecidas.
o Tratamento cirúrgico não está indicado na gestação. Exceção feita nos casos de trombose da veia retal, nos quais pode ser realizada a remoção do coágulo sob anestesia local.
NÁUSEAS E VÔMITOS
· Sintoma mais comum da 1ª metade da gravidez. Incide na gestação inicial, podendo persistir até o início do segundo trimestre. Em 20% das gestantes permanece durante toda a gestação. 1 a 3% complicam com a forma grave, denominada hiperêmese gravídica. Quando isso ocorrer deve-se referenciar a gestante para um serviço de alto risco.
· Sua etiologia é multifatorial; no entanto, os níveis elevados de beta-hCG e estrogênio são tidos como os grandes responsáveis pelos sintomas.
· Condutas gerais:
o Oferecer suporte emocional o Orientar dieta fracionada
o Evitar frituras, alimentos gordurosos, com odores fortes ou muito temperados.
o Preferir alimentos sólidos e ricos em carboidratos (biscoitos, geléia de frutas).
o Aumentar ingestão de líquidos, preferencialmente gelados, nos intervalos das refeições.
o Evitar deitar-se após as grandes refeições.
· Tratamento medicamentoso, diferenciar os sintomas quanto à sua apresentação clínica :
o Sintomas vestibulares respondem melhor a anti-histamínicos e anticolinérgicos
Ø Doxilamina + Piridoxina (10 mg): terapia de primeira linha. Iniciar com a dose de 2 comprimidos ao deitar, um pela manhã e um à tarde. Orientar a redução gradual da dose para evitar a recorrência dos sintomas após a interrupção.
Ø Dimenidrinato + Piridoxina (Dramin B6 - 50 a 100 mg) a cada 4h, numa dose máxima de 400 mg/dia, também apresenta boa eficácia.
o Sintomas viscerais apresentam melhor resposta à terapia com antagonistas dopaminérgicos e serotoninérgicos.
Ø Metoclopramida 5 a 10 mg, via oral, 3x/dia.
Ø Ondansetrona 4 a 8 mg,via oral ou sublingual.
Ø As duas medicações acima citadas também estão disponíveis para uso endovenoso, caso necessário.
· Terapia não-farmacológica:
o Gengibre em cápsulas, 250 mg via oral, 4x/dia.
o Acupuntura: utilizada em casos de náuseas persistentes.
PIROSE (QUEIMAÇÃO NO ESÔFAGO)
· Sintoma muito comum na gestação, frequentemente no terceiro trimestre. O aumento do volume uterino, que desloca e comprime o estômago, associado ao relaxamento do esfíncter esofagiano, levam ao refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago, causando a pirose. A sintomatologia geralmente é leve e aliviada pelas medidas comportamentais.
· Conduta:
o Refeições ligeiras e frequentes o Evitar alimentos gordurosos o Ingerir líquido gelado durante a crise.
o Evitar deitar logo após as refeições
o Manter a cabeceira da cama elevada.
o Terapia medicamentosa (caso necessário): Ø Hidróxido de alumínio ou magnésio, após as refeições e ao deitar. Ø Bloqueadores H2 e inibidores da bomba de prótons. Ø Não utilizar bicarbonato de sódio.
SÍNDROME DOLOROSA
· Pode ser abdominal baixa ou lombossacra. A primeira é descrita como sensação de peso no baixo ventre e na prega inguinal, em virtude da pressão do útero grávido nas estruturas pélvicas de sustentação e do relaxamento das articulações da bacia.
· A dor lombar, em diferentes graus, acomete a maioria das gestantes. Cerca de 1/3 destas, apresenta dor grave, interferindo na vida social e profissional. Tem origem na embebição das articulações sacroilíacas e no espasmo muscular decorrente de alterações posturais (lordose exagerada)
· Conduta:
o Correção da postura, uso de cintas apropriadas.
o Evitar ortostatismo e posição sentada por períodos prolongados o Orientar períodos de descanso durante o dia para relaxar a musculatura.
o Massagens especializadas, acupuntura e exercícios de relaxamento (ex.:ioga e hidroginástica) são benéficos.
o Casos mais resistentes: analgésicos e anti-inflamatórios.
TONTEIRAS E LIPOTÍMIAS
· Ocorrem devido à vasodilatação (efeito da progesterona) e à estase sanguínea nos membros inferiores e territórios esplâncnico e pélvico. Essas alterações reduzem o débito cardíaco, a pressão arterial e o fluxo cerebral, causando os sintomas. A hipoglicemia também pode contribuir para o distúrbio.
· Conduta:
o Orientar refeições frequentes, evitando jejum por mais de 2 horas.
o Desaconselhar ambientes fechados, quentes e mal ventilados.
o Evitar o ortostatismo prolongado.
o Em casos reincidentes recomendar o uso de meias elásticas (favorecem o retorno venoso).
o Evitar decúbito dorsal (relacionado à síndrome de hipotensão supina no 3º trimestre por compressão da veia cava inferior pelo útero gravídico)
VARICOSIDADES
· Ocorrem devido a predisposição genética, agravada pelo ortostatismo prolongado e pela própria gestação. Tendem a piorar com a evolução da gravidez e como aumento de peso. Causam desconforto vespertino, dor, edema, ulcerações; podem complicar com tromboflebite e flebotrombose.
· Conduta:
o Evitar ortostatismo ou permanecer sentada por períodos prolongados.
o Recomendar repouso periódico com membros inferiores elevados e uso de meias elásticas.
o Tratamento cirúrgico não está indicado na gestação. Em casos graves, pode ser necessária intervenção com injeção ou ligadura.
o Atentar para a presença de varizes vulvares extensas que podem sangrar durante o parto.
Fonte : Rotinas Assistenciais da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro