Higiêne Feminina  

Segundo o Guia Prático de Condutas para Higiene Genital Feminina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (2009), de onde transcrevo estas informações, existem no mercado, vários tipos de produtos de limpeza para a higiene genital feminina:

 

Sabões

Os sabões são já descritos desde a antiguidade. Na época dos Faraós era usado um produto, o natron, uma mistura de argila, cinzas e bicarbonato de sódio que era esfregado no corpo. Conta-se também que a mulher de um pescador na Sabóia italiana deixou cair um pouco de soda cáustica num recipiente, onde havia restos de azeite e ferveu a mistura, tendo obtido um produto com propriedades de limpeza. Já os Gauleses juntando banha de porco e cinzas conseguiram um verdadeiro sabão hidrossolúvel. Aprimeira saponificação foi conseguida por Chevreul, França em 1746. Os sabões comuns são obtidos por saponificação, isto é, pela ação de uma base em uma mistura de ésteres de ácidos graxos. Têm boa detergência, bom poder emulsificante e produzem bastante espuma, mas o seu pH alcalino pode destruir a camada superficial lipídica da pele, levando a uma secura excessiva, o que se denomina ”efeito sabão”. Os sabões transparentes (ex: sabonete de glicerina), pelo seu excessivo conteúdo em glicerina (umectante potente), podem absorver água em excesso para fora da pele, causando potencialmente mais secura e irritação cutâneas. Para compensar este efeito secante dos sabões, podem ser associados outros componentes, como agentes umidificantes (óleos vegetais, lanolina, pantenol e a própria glicerina), ou então ácidos graxos nos denominados sabões cremosos, que deixam um fino filme lipídico na pele, com a função de protegê-la. Estes sabões comuns são feitos a partir de substâncias orgânicas e quase sempre apresentados na forma sólida (em barra).

 

“Syndets”

Também chamados detergentes sintéticos, dermatológicos ou “sabões sem sabão”, foram desenvolvidos para contrariar também o descrito “efeito sabão”. Têm pH neutro ou ligeiramente ácido, efeito detergente, fazem espuma e podem apresentar-se em formas sólidas ou líquidas, sendo agradável o seu uso. Estes sabões são feitos, predominantemente, a partir de substâncias sintéticas (não orgânicas) e quase sempre apresentados na forma líquida.

 

Gel

São constituídos por uma fase aquosa (95% de água ou álcool), com pouca ou nenhuma quantidade de lipídios. Têm agentes tensoativos suaves, aos quais se associam agentes gelificantes hidrofílicos que fazem espuma com a massagem e lhe conferem poder adstringente, cujo uso é muito agradável, produzindo sensação de frescor.

 

Águas de limpeza

São utilizadas preferencialmente para remover os outros produtos e loções de limpeza ou para a higienização da zona das fraldas. Contêm detergentes, agentes umidificantes e amaciadores e têm, normalmente, água termal na sua base. São usadas em peles frágeis, reativas ou atópicas e habitualmente aplicam-se com algodão.

 

Lenços Umedecidos

Têm base celulósica embebida em detergentes suaves e com adição de produtos amaciadores, fragrâncias e outros constituintes. Têm pH na faixa de 5 a 6, sendo úteis em algumas situações (higiene fora de casa, sanitários de uso públicos, etc.) O seu uso não deve ser abusivo, pelo risco de poderem remover o filme lipídico da pele. Sua aplicação deve ser muito suave e não agressiva. Também podem ser sensibilizantes, pelas substâncias que contêm.

 

 

Produtos para higiene íntima feminina

 

 

Sabonete em barra

Os sabonetes em barra são os mais utilizados na higiene feminina em geral, seja pela tradição ou pelo preço. Apesar de sua popularidade, facilidade de uso e preços mais acessíveis, o uso rotineiro na genitália feminina pode trazer consequências indesejadas, uma vez que pela sua composição e pH alcalino podem promover ressecamento e diminuição da acidez da pele vulvar e região adjacente.

Por outro lado, os sabonetes em barra apresentam qualidades como: plasticidade, espuma cremosa, odor agradável e menor velocidade de perda de peso na estocagem. As indústrias, para poder fazer estes produtos, incorporam aditivos e solventes à sua formula. Sabonetes em barra são normalmente compostos por sais de ácidos graxos, óleos vegetais, perfumes, corantes, antioxidantes, sais inorgânicos e aditivos. Em geral, os sabonetes em barra são alcalinos ou neutros em sua forma sólida, com pH ao redor de 7, diferente do que o pH fisiológico da pele. Como fator negativo dos sabonetes em barra considera-se, além do pH alcalino ou menos ácido, a maior probabilidade do uso compartilhado por outras pessoas do domicílio, aumentando o risco de contaminação.

 

Sabonetes líquidos íntimos

Vários sabonetes líquidos íntimos são produtos à base de ácido láctico por ser um componente natural da pele. Porém, diferem entre si pelos vários excipientes associados. Existem muitos compostos presentes nos sabonetes líquidos, sendo os mais importantes: ácido lático, glicerina, sais de ácidos graxos que retiram a sujeira da pele, controladores de pH e EDTA para evitar precipitação (combinação de cálcio e magnésio quando usado com águas duras -água do mar). Seu principal atributo é poder manter o pH mais próximo do ideal para o desenvolvimento e manutenção das células da pele. O pH da pele é afetado por um grande número de fatores endógenos, por exemplo: umidade, transpiração (suor), sebo, local anatômico, predisposição genética e idade. Fatores exógenos como detergentes fortes, aplicação de produtos cosméticos, vestuários oclusivos, assim como antibióticos tópicos, também podem influenciar no pH da pele. Deve-se ressaltar a ação agressiva das lâminas usadas para raspagem dos pelos genitais e também a depilação com cremes e ceras que ressecam a região, invariavelmente. Os sabonetes líquidos específicos para higiene da genitália feminina são recomendados apenas para uso da genitália externa e não são indicados para fazer duchas vaginais. Também não são indicados para tratar infecções ou inflamações genitais.

Recomendam-se produtos hipoalergênicos e que proporcionam detergência suave. Desta forma pode-se minimizar a chance de eventuais alergias e, como já foi dito, evitar a remoção excessiva da camada lipídica que protege a pele vulvar.

 

 

Recomendações para o uso compreensivo dos produtos higiênicos genitais femininos

 

Para se orientar as melhores práticas de higiene genital e consequentemente minimizar efeitos desagradáveis, há de se diferenciar dois tipos de mulheres:

  • Mulheres sensíveis que tenham história e antecedentes alérgicos;
  • Mulheres aparentemente hígidas que nunca apresentaram irritação ou alergia nos genitais.

Parece lógico que aquelas com antecedentes de irritações ou alergia vulvares, devam evitar qualquer tipo de produto de higiene até que fique claro qual agente é o responsável por promover os episódios agudos.

As mulheres com dermatite atópica, vulvites de contato ou qualquer dermatite na região genital, além de terem seu tratamento específico instituído, deverão evitar o uso de papel higiênico de qualquer tipo (particularmente aqueles com cores, perfumes e ásperos), desodorantes íntimos, géis lubrificantes medicamentos tópicos, sabões ou sabonetes. A higiene poderá ser feita com água corrente em temperatura ambiente e secar com toalha limpa e macia. As demais mulheres poderão seguir as orientações abaixo:

 

 

Recomendações gerais

 

 

Área a ser higienizada

Compartimento externo (monte púbico, pele de vulva, raiz das coxas e região perianal) e compartimento intermédio (interior dos grandes lábios e dos pequenos lábios até a membrana himenal). A higienização diária deverá evitar a introdução de substâncias na cavidade vaginal (compartimento interno).

Frequência diária de higienização

  • No clima quente: uma a três vezes.
  • No clima frio: pelo menos uma vez ao dia.

 

Técnica de higienização

A vulva, a região pubiana, a região perianal e os sulcos crurais (raiz das coxas) deverão ser higienizados com água corrente e com produtos de higiene, fazendo-se movimentos circulares, que evitem trazer o conteúdo perianal para a região vulvar e que atinja todas as dobras sem exceção. Incluir os sulcos interlabiais (entre pequenos e grandes lábios), região retro prepucial (clitóris). Não se recomenda, exceto nos casos de indicação médica, introduzir água e/ou outros produtos no interior da vagina (duchas vaginais). Secar cuidadosamente as áreas lavadas com toalhas de algodão secas e limpas que não agridam o epitélio da região. A lavagem genital deverá dar preferência para os banhos com água corrente para favorecer a remoção mecânica das secreções (efeito Wash Out). Os banhos de assento estarão indicados somente quando houver recomendação médica, onde se prioriza o efeito medicamentoso de algumas substâncias prescritas e/ou onde quer se aproveitar os efeitos físicos de vaso dilatação ou constrição vascular, promovido pela temperatura da água.

 

Tipo de produto

Preferencialmente, produtos apropriados para a higiene anogenital que sejam hipoalergênicos, com detergência suave e pH ácido variando entre 4,2 a 5,6. Vários investigadores mostraram que o pH baixo no espaço extracelular tem um importante papel na homeostase da pele.

 

Forma de apresentação

Preferencialmente, produtos de formulação líquida, pois os produtos sólidos, além de serem mais abrasivos, geralmente apresentam pH muito alto (alcalino).

 

Tempo de higienização

O tempo de higiene genital não deve ser superior de dois a três minutos para evitar o ressecamento local.

 

 

Recomendações adicionais

 

 

A higiene genital não tem a finalidade de esterilizar a região que é normalmente colonizada por bactérias, mas sim remover resíduos e o excesso de gordura;

  • Secar a região é fundamental para não aumentar a proliferação bacteriana, fúngica e viral;
  • Ahidratação da pele após a higienização é desejável;
  • O uso de roupas naturais (não sintéticas) que favoreçam a ventilação local é recomendável;
  • A depilação da área genitoanal poderá ser feita, mas deverá respeitar a sensibilidade individual de cada mulher. A frequência deverá ser a menor possível, contudo a extensão da área depilada dependerá do gosto de cada mulher, uma vez que o excesso de pelos pode contribuir para o acúmulo de resíduos e secreções. Após a depilação, o uso de substâncias calmantes (água boricada e soluções de camomila) pode ajudar. As peles ressecadas deverão ser hidratadas assim como se faz nas demais áreas do corpo (usar hidratante não oleoso abrangendo apenas as regiões de pele, sem, contudo englobar a mucosa compartimento interno) e a semimucosa (compartimento intermediário);
  • O uso de absorventes externos não respiráveis (com película plástica) no período intermenstrual deve ser evitado;
  • Casos onde há muita transpiração, perda de urina ou de transudato vaginal excessivo, o uso de absorventes externos respiráveis (sem película plástica) pode ser uma boa indicação para diminuir a umidade local. Trocar periodicamente em, no máximo, 4 horas de intervalo;
  • Após lavagem, enxaguar exaustivamente as roupas íntimas para retirada de resíduos químicos;
  • Trocar as roupas íntimas ao menos uma vez ao dia;
  • Dormir, quando possível, sem calcinha ou com roupas largas para aumentar a ventilação dos genitais.

 

 

Recomendações Especiais

 

 

Pós-coito

Após ato sexual, lavar área genital externa com água e produto de higiene íntima. Não fazer uso de duchas vaginais sem indicação médica.

 

Período perimenstrual e menstrual

Nesta fase o hábito da higiene deveria ser feito com menor intervalo, para aumentar a remoção mecânica dos resíduos e melhorar a ventilação genital com consequente redução da umidade prolongada. Sangue menstrual, maior produção de secreção sebácea, sudorípara e glandular e, uso prolongado de absorventes com película plástica externa, são fatores agravantes da irritação vulvar. Substâncias levemente ácidas favorecem manter o pH adequado de região genital.

 

Puerpério recente

O asseio deve ser feito como no período menstrual, com produtos com pH levemente ácidos. A maior frequência da higienização é recomendada; contudo a pele vulvar e a mucosa vaginal estarão menos tróficas e mas irritadas pelo hipoestrogenismo, a constante loquiação e maior sudorese, próprios do período puerperal.

 

Pós-menopausa

Devido a menor espessura do epitélio, recomenda-se lavar, no máximo, duas vezes ao dia, usando produtos com pH próximo ao fisiológico para evitar maior ressecamento e consequente prurido.

 

Infância

As pré-púberes têm características genitais que exigem cuidados especiais. A falta, mas também os excessos na frequência e fricção durante a higiene podem trazer consequências desagradáveis. Deve ser feito o uso de produtos com pH entre 4,2 a 5,5 quando for dar banho na criança e a cada vez que houver evacuação. Além dos sabonetes líquidos é fundamental o cuidado em secar, cuidadosamente, a região anogenital.

 

Pós-atividade física

Fazer a higiene dos genitais, logo após o término das atividades físicas para evitar que o suor e outras secreções irritem a pela da vulva.

 

Vulvovaginites

Na vigência do quadro, as mulheres deveriam procurar tratamentos específicos com seus ginecologistas. A higiene genital pode ser uma necessidade paliativa, mas não deve ser encarada como tratamento. Situações associadas à alcalinidade, tais como vaginose bacteriana, podem se beneficiar de higiene com produtos mais ácidos.

 

Pós-depilação

Levando-se em consideração a maior possibilidade do aparecimento de foliculites, ressecamento e irritação da pele, recomenda-se o uso de substâncias antissépticas e anti-inflamatórias naturais (água boricada, infusões de camomila, água termal, etc) nas primeiras 24 horas.

(Fonte : FEBRASGO)

 

 

 

 

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